quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Quase uma parábola

Chego no posto bem cedinho, ponho o uniforme, boné e tudo. Escolhi essa profissão porque tenho na cabeça há muito tempo minha missão – fazer as pessoas irem longe. Pôr combustível no carro de quem vem aqui é a maneira mais certeira de fazer isso.

Difícil que eu me incomode no serviço. O chefe (na verdade todo mundo que me conhece) diz: “o cliente tem sempre razão”. E assim as coisas vão fluindo. À exceção de ontem. Por causa de ontem, até perdi o sono.

Um cara chegou de carro e parou, como se fosse abastecer, quase em frente à bomba de combustível. Estendi meus braços num gesto que dizia: “vem mais pra frente, cidadão”. Ele fez que não com a cabeça, abriu o vidro e quis me alcançar uma nota de 20. Fui me chegando e ele pediu, apressado: “Não quero gasolina, chapa. Compra uma carteira de cigarros e fósforos pra mim ali, valeu?”, e apontou para a loja de conveniências.

Tinha gente atrás dele esperando a vez de abastecer, acho que dois ou três carros que, por causa dum idiota, não podiam ir a lugar algum. Mandei na hora o cara pra puta que o pariu, bem alto. Logo, um colega meu que devia estar vendo tudo veio e me substituiu.

Esse motorista de ontem fez eu me lembrar do meu emprego anterior. Também acordava cedo. Também queria fazer as pessoas irem mais longe. Mas a gurizada de tudo que foi escola onde lecionei ia para a aula com várias intenções, menos aprender.

Meu, fazia tempo que eu não perdia a paciência!

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