quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Hóspede

Quando minha mãe foi para o hospital, meus irmãos e eu decidimos pregar numa parede aqui de casa o "Senhor é convosco". Nos cinco dias seguintes, a mãe foi morrendo cada vez mais. Até que no último sábado, ela passou a ser lembrança.

O "Senhor é convosco" continua na sala, mas não Lhe damos mais função. Às vezes penso que Ele me olha de um jeito meio mendigo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Lembranças

Se tem um prato de que não gosto e nem em viradas de ano experimento é lentilha. Tenho isso como uma regra. Não comi nem a que minha mãe preparava, ela que era tão conhecedora da arte de cozinhar.

Santiago , parceiro do xadrez e das palavras, e que durante toda a vida não demonstrara habilidade nem para passar manteiga no pão, aprendeu a cozinhar. Aprendeu por conta própria. E gostou.

É para a lentilha que ele prepara, com uns temperos que nunca me lembro dos nomes, que abro aquela exceção tão comum em todas as regras.

Santiago não tem pai nem mãe. Perdeu os dois na mesmíssima semana. A mãe, que teve câncer e há muito estava no hospital, faleceu - vejam só - dois dias após o pai. Enquanto todos esperavam que um fatídico telefonema anunciasse a morte de dona Beatriz, o inesperado ligou a cobrar:

"Santiago, teu pai morreu!", disse uma voz chorosa.
"O quê? Como assim, Luísa?"
"Ataque do coração. Só deu tempo de ele parar o ônibus."

Não cheguei a conhecer os pais de Santiago, mas toda vez que lhe faço uma visita, seja para jogarmos xadrez ou para discutirmos um novo texto, ele dá um jeito de falar em ambos, principalmente na mãe, que era com quem ele mais se identificava. E tão seguidamente fala que é como se eu a conhecesse, eu, que só a vi no velório, dentro do esquife.

Então, numa dessas noites em que jogávamos xadrez, descobri o que deveria ser seu grande segredo, aquele que todo grande cozinheiro deve ter. Depois de algumas partidas, ele decidiu fazer algo para comermos. E porque na cozinha viu algo que o fez lembrar da mãe, começou a falar nela; falava sem nenhuma tristeza, sem nenhuma dor: simplesmente celebrava-lhe a memória.

E a mãe, de tão agradecida, enquanto ele lavava um legume, sussurrava segredos culinários que só ele ouvia.

domingo, 19 de julho de 2009

em breve


ando ocupado com outras coisas no momento, mas em breve porei aqui mais um texto (inédito, espero!)