quinta-feira, 22 de setembro de 2011

pulga

Hoje, com a intenção de depois mostrar aos alunos de 5ª série o "grau dos substantivos e dos adjetivos", peguei o livro didático, distribuí um para cada um e pedi que lessem o poema "Santo do dia", da Sylvia Orthof. 

"Dia de São João,
fogueira e clarão.

Dia de São Pedro,
barquinho no mar.

Mas tadinho de São Nunca,
seu dia custa a chegar:
não foi ontem, não é hoje,
amanhã... Nunca será?"

Lido o texto, foram à interpretação e demais perguntas. A turma, meio quieta, meio barulhenta (sempre os mesmos!), ia fingindo fazer a tarefa e a fazendo de verdade. 

E eu ia mantendo aquele meu silêncio interno, próprio de quem sabe como as coisas funcionam. Até que um dos menores da turma, falando mais sozinho que comigo, disse: 

- A poesia é uma pulga.

Retirado do meu silêncio, olhei para o Brian: "O quê?"

- Tá escrito aqui: "A poesia é uma pulga" - repetiu e apontou para umas letrinhas difíceis de ver ao fim do texto.

Era o título do livro de onde o poema fora tirado. Aproveitei a deixa: "Sabe por que isso?"

- Não - sorriu.

- Porque ela pula no teu braço, te dá uma picada e te deixa uma marquinha e uma coceira difícil de não coçar.

Ele continuou sorrindo, balançou a cabeça e disse "Não é não!" de um jeito que, entendi, suspeitava que eu estava certo. O Brian, ali, já tinha sido picado.

2 comentários:

  1. Que bonito isso do menino Brian ser picado. Pela poesia!

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  2. Da simplicidade da vida nasce o que de mais profundo pode surgir a partir do interesse (?) de uma aula. E o que semeia o professor? Utopia, a utopia de Eduardo Galeano.
    Bruno Brum Paiva

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