
Minha tia, de vida triste por quase toda vida, de uns tempos para cá, nunca está disponível à meia-noite para dar/receber abraços e felicitações: mete-se embaixo do chuveiro com a intenção de entrar o ano limpa.
O pai de um amigo distribui pequenos envelopes contendo sementes de fruta do conde para os familiares colocarem na carteira; diz que a simpatia funciona para chamar dinheiro.
E num bairro distante daqui de Porto Alegre, um casal bastante próximo a mim decidiu, desde que se casaram, passar a virada do ano, no quarto deles, nus e enroscados. Dizem que querem o amor atado com nó bem firme. Por isso a hora de baterem as taças de champanhe pode variar entre antes ou depois da meia-noite. À meia-noite exatamente têm de estar grudados.
E porque há o horário de verão, não se importam de repetir o ritual uma hora depois, na verdadeira meia-noite.