terça-feira, 17 de agosto de 2010

Depois de ler Kaváfis

Para o Akin, que há de dizer muito Deus do Céu! aos poemas que lerá!

A Literatura é bendita. Porque existe (“O quarto era pobre e vulgar,/ oculto no alto da taverna suspeita./ Da janela via-se a ruela,/ suja e estreita. De baixo/ vinham as vozes de alguns operários/ que jogavam cartas e se divertiam.// E ali, na cama rústica e humilde,/ possuí o corpo do amor, possuí os lábios/ voluptuosos e róseos da embriaguez -/ róseos de uma tal embriaguez que, mesmo agora/ quando escrevo, depois de tantos anos!,/ em minha casa solitária, novamente me embriago.”), me pego às vezes dizendo Deus do Céu!, assim como quem sabe devesse dizer o crente.

Que força (“Algo que disseram ao meu lado/ dirigiu minha atenção para a entrada do café./ E vi o belo corpo que era aparentemente/ como se Eros o tivesse feito com sua extremada experiência -/ modelando seus harmoniosos membros com alegria;/ erguendo, escultural, a estatura;/ modelando com emoção o rosto/ e deixando pelo toque de suas mãos/ um sentimento na fonte, nos olhos e nós lábios.”) tem a delicadeza de um verso! Tanta que me faz lembrar a história de um alguém: o sujeito botou os olhos distraidamente num poema (“Os homens conhecem as coisas que ocorrem./ As futuras, os deuses a conhecem,/ plenos e únicos possuidores de todas as luzes./ Das coisas futuras os sábios percebem/ as que se aproximam. Sua audição// às vezes, em horas de sérios estudos,/ perturba-se. O misterioso clamor/ vem-lhes dos acontecimentos que se aproximam./ E, respeitosos, ficam atentos a ele. Enquanto na rua,/ lá fora, nada escutam os povos.”) e nunca mais enxergou do mesmo jeito.

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