
"Dia de São João,
fogueira e clarão.
Dia de São Pedro,
barquinho no mar.
Mas tadinho de São Nunca,
seu dia custa a chegar:
não foi ontem, não é hoje,
amanhã... Nunca será?"
Lido o texto, foram à interpretação e demais perguntas. A turma, meio quieta, meio barulhenta (sempre os mesmos!), ia fingindo fazer a tarefa e a fazendo de verdade.
E eu ia mantendo aquele meu silêncio interno, próprio de quem sabe como as coisas funcionam. Até que um dos menores da turma, falando mais sozinho que comigo, disse:
- A poesia é uma pulga.
Retirado do meu silêncio, olhei para o Brian: "O quê?"
- Tá escrito aqui: "A poesia é uma pulga" - repetiu e apontou para umas letrinhas difíceis de ver ao fim do texto.
Era o título do livro de onde o poema fora tirado. Aproveitei a deixa: "Sabe por que isso?"
- Não - sorriu.
- Porque ela pula no teu braço, te dá uma picada e te deixa uma marquinha e uma coceira difícil de não coçar.
Ele continuou sorrindo, balançou a cabeça e disse "Não é não!" de um jeito que, entendi, suspeitava que eu estava certo. O Brian, ali, já tinha sido picado.